terça-feira, 26 de julho de 2011

Você tem fome de quê?

Suas vontades mudam assim como o seu humor

Você circula entre casamentos e coquetéis de lançamento sem roubar um único petisco engordativo e sobrevive aos bolos de aniversariantes do mês de seu trabalho sem tirar uma casquinha. Então, por que uma briguinha, assim de leve, com seu namorado é capaz de fazê-la ligar imediatamente para o disque-pizza? Talvez porque o maior inimigo de sua dieta não sejam as tentações à vista, mas, sim, o seu humor!

As pessoas comem mais quando influenciadas pelo fator emocional, seja ele circunstancial ou não. O fator emocional é o boicotador número 1 das dietas.

Pesquisadores do Centro de Controle de Peso e de Pesquisas em Diabetes do Hospital Miriam, em Providence, nos EUA, concordam com a afirmação. Eles descobriram que sofrimentos emocionais constituíam um obstáculo maior ao programa de perda de peso do que problemas externos, como um jantar servido em bufê — quando colocamos em nosso prato muito mais do que deveríamos.

Também existem evidências psicológicas para comprovar o que você sempre desconfiou: de fato, as mulheres são mais propensas a comer em excesso após um dia ruim do que os homens. Em um estudo publicado no começo deste ano, pesquisadores do Laboratório Nacional de Brookhaven, também nos EUA, reuniram voluntários, homens e mulheres, com peso normal e os acompanharam por cerca de 20 horas. Nesse tempo, ofereceram a cada um sua comida preferida. Eles eram instruídos a resistir, enquanto um equipamento de imagem fotografava suas atividades cerebrais. O resultado dessas fotos mostrou que, apesar de todos os voluntários conseguirem rejeitar a tentação de alguma forma, as áreas do cérebro que controlam as emoções e motivações em comer ficaram mais ativas nas mulheres do que nos homens.

Se é possível controlarmos nossas vontades, por que não é tão simples fazermos isso? Por uma única razão: nossa ligação emocional com a caixa de bombons é diferente daquela que temos com Clive Owen ou Alexandre Borges, e está toda em nossa cabeça. Isso significa que os componentes químicos responsáveis pela variação de humor são capazes de disparar o gatilho para a fome emocional.

Como em uma balança, os reguladores químicos do humor e do apetite no cérebro tendem a ficar nivelados. Se há um desequilíbrio, o cérebro busca uma compensação. “Emoções como insegurança, ansiedade e depressão, que geram um descompasso bioquímico do sistema nervoso central e derrubam a balança, provocam alterações no apetite. São várias as pesquisas científicas que demonstram a estreita relação entre as complexas reações cerebrais e o equilíbrio de nutrientes no organismo”.

Ao termos um dia daqueles, a produção de serotonina (o neurotransmissor que a mantém longe de sentir ansiedade e depressão) cai. É ela a substância mágica que melhora o humor, promove energia e disposição. Além disso, a queda nos níveis desse neurotransmissor, causada por stress, cansaço,TPM, insônia e desinteresse sexual, está relacionada à irritabilidade e ao aumento do apetite de forma mais intensa nas mulheres do que nos homens. “As mulheres produzem 25% menos serotonina do que o sexo masculino, portanto, a relação humor/ apetite fica ainda mais comprometida”.
Para manter os níveis químicos apropriados, o cérebro pede por carboidratos, que contêm o aminoácido triptofano (precursor da serotonina). O que explica por que depois de horas parada no trânsito bate a vontade de entrar no primeiro drive-thru. Ao atendermos a esse desejo, o corpo produz serotonina e alcança seus níveis normais quase instantaneamente — até todo carboidrato ser processado —, retornando ao equilíbrio na balança. Então, vem outra pegadinha: a taxa de açúcar no sangue baixa e você ouve o cérebro pedindo mais.

Nesse instante, é melhor parar e refletir. Você está realmente com fome? Provavelmente, não — apesar de sentir o contrário. “Fome na verdade é a razão menos mencionada como motivo de comer demais”. Baixo nível de serotonina também pode comprometer sua capacidade de saber quando já comeu além da conta, fazendo-a comer quando não precisa e comer mais do que deveria.

Se você tende a se alimentar para se sentir bem, ficar com os níveis de serotonina baixos por longo tempo provavelmente fará com que seja mais difícil resistir àquilo que adora, normalmente alimentos ricos em gordura. A diminuição dos níveis de serotonina também tem sido relacionada a um aumento no sentimento de comer por recompensa. Traduzindo: “Os comedores emotivos não comem apenas para amenizar o stress, mas por sentirem-se melhor em relação ao que estão passando”.

Relacionar as químicas produzidas pelo cérebro a associações emocionais feitas ao longo da vida — como ganhar um pirulito sempre que cair e machucar os joelhos — não ajudará você a resistir a uma caixa de Bis. “É um comportamento natural do ser humano buscar alívio e compensação. Nada errado com isso, desde que em limites normais. O problema surge quando há excesso e descontrole”.

Pode levar tempo, mas, é possível mudar a maneira que reagimos aos impulsos e controlarmos a gula por ansiedade.

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